Já que estamos falando em Mito...

27 de fevereiro de 2013

Saudações caros leitores!

Temos percebido uma certa confusão em grupos virtuais sobre Asatru/Odinismo, muitas pessoas tem dificuldade em compreender o que é Mito/Mitologia e suas estruturas básicas e características principais. Isso me motivou a publicar este texto, que é apenas um esboço de uma futura publicação mais elaborada. Espero que aproveitem a leitura.

Há claramente uma relação de falta de informação, ou total desconhecimento do verdadeiro significado de termos como “Mito” e “Mitologia” por parte da maioria das pessoas, existe ainda uma falsa ideia, de que mitos são apenas apenas “estórias”, que nada importante trazem para a sociedade contemporânea. Seria muito fácil esquecer o passado lendário, se não fosse o fascínio que este traz aos corações daqueles que se aventuram por esse obscurecido e empoeirado campo de estudos ou mesmo que se deparam com figuras mitológicas retratadas em várias mídias atuais, como revistas em quadrinho, romances, filmes, etc. Se conhecermos a natureza da mitologia e as características universais dos mitos, poderemos perceber que, mesmo a sociedade hodierna traz consigo um amplo leque de elementos mitológicos, como os heróis dos povos antigos, hoje relativamente comparáveis aos indivíduos possuidores de fama e prestígio, como atletas e artistas, cujas figuras transcendem o meramente mundano, basta observar uma figura como Pelé, um indivíduo vivo e mitificado, nesse caso a figura do “herói nacional”, essa característica básica é a transcendentalidade, indo muito além da suas características mundanas reais, ele passa a representar algo maior, “o rei do futebol”.

Além do caráter transcendental, o Mito apresenta outras características típicas, como a atemporalidade, ou seja, o Mito costuma apresentar-se cronologicamente vago, portanto, muitas histórias míticas apresentam-se como algo ocorrido numa temporalidade indefinida, geralmente utilizando expressões como: “Há muito tempo atrás”, “no início dos tempos”, “no princípio de tudo”, etc. Esse formato é facilmente encontrado nos diversos Mitos narrativos da gênese do universo e da humanidade, chamados mitos cosmogônicos. Quando estes contam a história da origem de algo mais específico, como uma doença, ferramenta, arma, etc, chamamos de mito de origem.

As funções de narrativa e explicação estão estreitamente ligadas ao surgimento do Mito, pois se hoje as forças da natureza ainda nos causam admiração; imagine o mesmo para nossos ancestrais que viviam em condições severamente inóspitas, sem as facilidades tecnológicas que temos hoje, ou seja, sem a ciência moderna. Para eles um simples temporal representava algo muito maior, uma força selvagem, destrutiva e ao mesmo tempo fertilizadora através da chuva, era assim, algo totalmente inexplicável, que precisava ser compreendido e assim “controlado”, assim é a perspectiva do mito, pois pela lógica própria do Mito, acredita-se que, quando se conhece a origem (mitológica), se adquire certo poder sobre o objeto em questão. Mas como compreender fenômenos sem a ciência? A única resposta era o Mito, cumprindo o dever de explicar, de afastar o medo do homem, de impor uma ordem ao caos das forças naturais do universo.

Também não existia a História como conhecemos hoje, dotada de escrita e caráter científico, pelo contrário, a História era oral e no lugar do princípio científico havia o culto aos ancestrais, assim, a narrativa mítica também surgiu como necessidade de preservação da memória coletiva e formação ou manutenção das hierarquias sociais, visto que os grandes chefes muitas vezes reivindicavam uma linhagem ancestral mítica. Desse modo, também o Mito cumpriu uma função social de formação e manutenção das hierarquias, como nas sociedades germânicas pré-cristãs.

Voltemos agora à sociedade contemporânea, na qual estamos abarrotados de mitos, que em sua versão moderna são diferentes dos mitos típicos das sociedades antigas ou “primitivas”, na verdade a nova roupagem do mito serve como disfarce, assim o homem contemporâneo não percebe que está mergulhado em um mar de mitos modernos, que para ele são fatos inquestionáveis. Existem mitos apontáveis também no ramo ideológico, como por exemplo o Mito da Ciência, uma crença de que o avanço científico e tecnológico por si só, faria a humanidade avançar plenamente, sem quaisquer barreiras, rumo a um novo estágio de paz e prosperidade. É notável assim, que a crença em algo infalível, estático e que vai além da simples realidade mundana constitui um mito.

Dessa maneira, devemos alertar a consciência de que, o Mito não representa uma mentira, um conto de fadas ou apenas uma narrativa heroica, mas é muito mais do que isso, ele traduz arquétipos primitivos, enraizados em nossas mentes durante gerações, ele sacia a necessidade de explicar para controlar e legitimar. O Mito é uma tela na qual se projetam nossos desejos mais primordiais, o transcendental que satisfaz necessidades psicológicas e sociais, tanto de explicação para os povos “primitivos” quanto de satisfação de fazer parte de algo que vai além da existência mundana. Mitificamos nossos líderes, pois desejamos que sejam mais do que meros seres mundanos, também o fazemos com nossos artistas, que passam a ser figuras semidivinas, mas não é um crime, ao contrário, faz parte de ser humano, contudo, é preciso salientar que, devemos compreender como isso afeta o meio em que vivemos, como é usado no controle das massas, assim como, é necessário saber a natureza do Mito para as religiões quando as estudamos, em especial na compreensão e reconstrução da antiga fé germânica. Pois conhecendo esse aspecto básico no estudo da religião, podemos nos livrar mais facilmente das armadilhas do fundamentalismo e da intolerância, podendo dedicar-nos a estudos mais aprofundados e contemplativos de nossa fé ancestral. Além disso, uma interpretação coerente de nossos mitos, permite um contato com as concepções de nossos ancestrais, tanto no que se refere ao divino quanto ao mundano e as relações entre essas suas duas diferentes esferas.

Este breve texto não tem como finalidade ser um tratado complexo, mas sim uma explanação simples e introdutória sobre o assunto, com o objetivo de trazer uma visão básica do significado do Mito, portanto, muitos aspectos do assunto não foram abordados aqui, mas podem ser buscados livremente em livros, artigos e outras fontes. Espero ter contribuído com o aprendizado de nossos leitores.

Bons estudos a todos!

Wassail!

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