[Review] Vikings S01 E01: Rites of Passage

14 de março de 2013


Quando o History Channel anunciou "Vikings" há uns meses, a série atraiu atenção das comunidades odinistas/pagãs e despertou a preocupação daqueles mais preocupados com a "reputação questionável" que o canal conquistou nos últimos anos. Ainda assim, Vikings chegou com a pretensão de ser um concorrente à Game of Thrones do HBO e fez isso de forma pouco ousada - com uma estética semelhante e até um mote central (The Storm is Coming) que só pode ser chamado de 'pouco criativo'. Ainda assim, Vikings atraiu a atenção e despertou interesse. E, no último dia 03, sob olhares atentos de 6,2 milhões de telespectadores ela estreou.

Em Vikings, somos apresentados à Ragnar Lothbrok, personagem principal da trama. E, logo de cara, somos jogados no meio de uma batalha aonde Ragnar e seu irmão Rollo lutam no leste do mar Báltico - atualmente composto pela Lituânia, Letônia e Estônia. São as invasões ao leste. A cena, porém, é retratada de tal forma que parece que os dois, sozinhos, mataram toda uma legião de inimigos. Após a batalha - que, como eu disse, ele, aparentemente, lutou praticamente sozinho, Ragnar observa os mortos no campo de batalha e lá, caminhando vagarosamente entre os mortos, uma figura de aspecto misterioso se destaca. Corvos o circulam e em sua mão uma lança. Ninguém menos que Odin, o Pai de Todos, escolhendo aqueles que iriam para o seu salão e, depois que este era escolhido, das nuvens descem as Valquírias que levam o caído até o Valhala. Eu, como muitos, estava preocupado com a importância que a série daria para a religiosidade da época, mas, esta cena - embora tenha abordado tudo de forma extremamente literal - retratou de maneira digna um dos fios condutores das tradições nórdicas. E, admito, nesse momento eu passei a ver com olhos otimistas o aspecto da religiosidade que seria abordado pela série.


De volta ao lar, na Escandinávia, Ragnar se prepara para a Thing onde o Earl irá anunciar os locais das próximas invasões marítimas no verão e, além disso, levar seu filho Bjorn para fazer o rito de passagem para a maioridade. Bjorn, alias, se torna a grande conexão do expectador geral com o universo das tradições nórdicas, porque, de forma geral, ele carregou as duvidas que o expectador poderia ter na ambientação das crenças e dos costumes. Durante a Thing, por exemplo, é preciso mostrar o quanto aquela sociedade era igualitária entre os seus, mostrando que todos - mesmo Bjorn - tinham voz nas decisões capitais. Também é graças à esse recurso que Ragnar explica conceitos fundamentais retratados nas eddas.


Durante a Thing somos, agora, apresentados a Earl Haraldson que, sob insistência de Ragnar, anuncia que as navegações seriam, novamente, para o leste - a terra invadida na cena inicial, uma terra que o próprio Ragnar retrata como "pobre e sem mais o que saquear". Ragnar contesta a decisão, e sugere a navegação para o oeste. A navegação para o oeste, alias, se mostra a grande obsessão de Ragnar. Em vários momentos no episódio é mostrado como ele reúne o máximo de ferramentas possíveis para conseguir vencer o mar aberto - algo, até então, impensado. Porém, a perspectiva de lançar-se ao mar, sem nenhuma referência de sua rota, e sem a garantia de lucro é imediatamente descartada por Earl Haraldson, que recusa-se a usar seus navios numa causa tão incerta.

Enquanto isso, no lar de Ragnar, sua esposa Lagertha e sua filha Gyda se dedicam aos afazeres domésticos, quando dois homens armados invadem a casa. A cena é interessante por retratar de forma satisfatória uma das virtudes de maiores destaques nas Eddas: a hospitalidade. Mesmo com a evidente intenção daqueles que entram em sua casa, Lagertha oferece primeiro sua hospitalidade para com eles. Por fim, quando fica completamente inquestionável as reais intenções dos dois, vemos outro aspecto da personagem, o seu lado guerreira, que não vê dificuldade em repelir a dupla de invasores.


Uma postura bem condizente com o que é dito no Hávamál:

004. "É necessário água
para aquele que chegou para se alimentar,
de toalha e de um convite,
de boa disposição,
se ele puder conseguir,
com conversa e silêncio em retribuição."

Após a Thing, Ragnar é repreendido por Earl Haraldson que ficou descontente por ter sido contestado na frente de todos. Fica claro que estamos testemunhando um ressentimento antigo que, aos poucos, caminha para uma inimizade mútua. E, logo após, testemunhamos um pesadelo de Earl Haraldson onde seus filhos são mortos, e é impossível não deixar de confabular no quanto Ragnar poderá ter culpa nisso.

Após deixar a Thing, vemos que a decisão de continuar as invasões para o leste já era esperada por Ragnar, que já tomava suas providências. Ele busca um oráculo para tentar decidir por quais caminhos tomar, porém, fica insatisfeito com as respostas esquivas que obtém.

É onde conhecemos Floki. Ragnar contratara-o para fazer um barco só seu com o qual planejava navegar para o Oeste por sua própria conta. Floki é excêntrico, agitado e carregado de um certo misticismo - o que me faz pensar se ele não seria, de fato, o próprio Loki, contribuindo com aquela parcela de caos tão necessária para as grandes mudanças e reviravoltas históricas.

Floki também retrata - novamente usando Bjorn como conexão para o público - um aspecto fundamental da cultura nórdica: o barco. Muitos achados arqueológicos e registros históricos deixam claro que o barco é um elemento de grande importância nas tradições nórdicas, e a responsabilidade de retratar esse respeito foi posta nas costas de Floki que define, de forma clara, essa importância com uma única frase.


De volta ao lar, Ragnar convida seu irmão a se juntar à sua tripulação, mas o convite só é aceito sob a condição de que os dois estariam velejando como iguais. Em dado momento, Ragnar sai de casa para urinar, e lá, na praia, Odin contemplava o mar. A visão durou apenas um segundo, mas foi o suficiente para fazê-lo ter certeza de que estava no caminho certo de sua jornada para o oeste. Ragnar viu Odin, mas o que ele não viu foi seu irmão declarando suas intenções à sua esposa. Embora Rollo tenha sido veementemente repelido por Lagertha, está mais do que claro que essa não foi a primeira, e nem será a última de seus investidas.

Na manhã seguinte, Ragnar, Rollo e Floki se lançam às águas para o primeiro teste com o barco recém-construído de Ragnar. A vela se abre e o navio flutua nas águas e, com um sorriso triunfante no rosto de Ragnar, chegamos ao fim do primeiro episódio.

O ano é 793 da Era Comum.

No dia 8 de junho de 793, o mosteiro de Lindisfarne sofreria o ataque que daria início a "Era Viking".

À essa altura, não é difícil imaginar quem vai liderar esse ataque.

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