
Tarde da noite, quatro ratos se aproximaram de uma casa onde anteriormente aconteceu uma grande festa. Eles tinham farejado de longe o cheiro das comidas e bebidas do banquete que estavam sobre a mesa e sabiam que os humanos estavam na cama àquela hora da noite.
Chegando na casa, eles subiram por algumas videiras até chegarem em uma janela que estava aberta.
Famintos pelas sobras da comida, três dos ratos passaram rapidamente da janela para a mesa. Mas, um rato prudente permaneceu na janela, olhando para todos os lados da casa. Ele se sentiu um pouco tolo, ficando ali, na janela, enquanto os outros se banqueteavam na frente dele, mas ele se preocupava com o que mais ele poderia encontrar ali, além de sobras de comida e pessoas dormindo.
Pela Penumbra, ele viu três gatos espertos atacarem seus amigos e devorá-los. Ele não pode avisá-los, e eles se foram com apenas um chiado. O rato afastou se discretamente rastejando. Triste por seus amigos, mas feliz por sua cautela.
Este texto é uma referência direta ao primeiro verso do Hávamál:
“Antes de atravessar uma porta,seja cauteloso e olhe ao redor. Não dá pra saber de antemão, onde os inimigos poderão estar” |
Os primeiros versos do Hávamál são conhecidos como “Sabedoria para viajantes e conselhos para hóspedes” e por sua vez está diretamente relacionado com uma das Nove Nobres Virtudes, que é a Hospitalidade (Ah, vá!), contudo, estas orientações servem também para os anfitriões. O conselho reflete bem a realidade da época, onde pedir abrigo na casa de um estranho poderia proporcionar ao andarilho uma boa refeição e uma noite aconchegante próximo ao fogo, ou a morte certa. Da mesma forma que receber um estranho implicava em ter uma boa companhia, ou custar a vida de toda uma família.
Apesar de nossa realidade atual diferir em muitos aspectos, esta orientação consegue ainda manter sua utilidade.
Posso começar, citando um exemplo pratico que faz parte da minha realidade.
Moro em uma cidade interiorana, onde as pessoas têm o habito de atender estranhos na porta que passam pedindo água, ou que pedem e dão carona na estrada para o centro urbano. No começo, achava isso uma loucura, já que vim de uma cidade grande, onde, se alguém pede carona, corre o risco de ser atropelado, pelo desespero do motorista em achar que é um assalto.
Devemos considerar também que a dinâmica sazonal da Roda do Ano e o conceito do tempo cíclico entendido por nós, Asafolks, nos colocam em situações inusitadas a qualquer momento, por isso, cautela nunca é demais.
Todavia, não devemos confundir cautela constante com preocupação exagerada. O próprio Hávamál em seu verso 23 nos diz:
“O homem tolo, fica acordado a noite toda pensando em seus problemas. Quando amanhece, sua mente está cansada e os problemas continuam no mesmo lugar.” |
Ser prudente, exige sabedoria, coragem e disciplina, tal como o rato da história, que demonstrou coragem ao dominar seu impulso de avançar na comida e disciplina de continuar observando, mesmo depois de uma primeira inspeção.
Lembro-me das palavras de um professor de OSPB e Educação Moral e Cívica (Quem tem menos de 30 anos não deve estar fazendo ideia, do que estou falando, srsr!), ele disse:
“Prudência, é refletir cada ato para uma decisão correta.” |
Finalizo este texto, saudando ao Altíssimo e pedindo que ele nos inspire com sua sabedoria, para podermos sempre observar ao redor de cada porta que aparece no nosso dia a dia.
Saúdo também a Tyr, e peço a inspiração da sua coragem, para cruzarmos tais portas, ou para fechá-las se necessário for.
E Saúdo a Heimdall, sentinela de Aesgard e peço a inspiração de sua disciplina, para estarmos sempre atentos aos inimigos (dificuldades) que encontraremos em cada porta.
Wassail!
Don Canali
Texto original de “Quatro ratos participam de uma festa.”
HEATHEN FAMILIES: Nine Modern Fables for Heathen Children and a Collection of Essays Regarding Heathen Families.
By: Mark Ludwig Stinson.
Tradução: Don Canali, com a contribuição de Brunhild Wodensdottir e Malk Vieira Araújo.
OBS: Não sou nenhum “expert” da língua inglesa, minha tradução foi livre e contou muito com a ajuda dos amigos e do bom e velho dicionário. Caso alguém queira o texto original, ele, e outras obras do mesmo autor (e de outros), estão disponíveis em:
Parabéns meus caros por mostrarem a prática do paganismo de Maneira séria e coesa como tem feito.
ResponderExcluirSó não chame tigre de gato!. hihihi Isso na foto é um hamster, não um rato. :P
ResponderExcluirFora isso, tradução ótima.